Tenho nas mãos um cheiro a limão - incomoda-me. Aprendi a ter menos frescura, a caminhar sem medo mesmo quando o tenho. Não foram os melhores meses da minha vida, mas hoje já me sinto em casa quando à noite assisto a novela. Não me apaixonei, acho que já consegui domesticar meu coração. Agora os dias demoram a passar e confesso que não me habituei às trovoadas de verão. Hoje não sei o que queria, hoje eu não sei o que quero, mas é certo que nada permanece igual e muitas coisas me deixaram atrás da porta.
tamanhas vezes
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
Natacha abriu a porta. Havia chocolates, bolachas de
côco, bolachas de cereais, um x-acto e vários papeis em cima da mesa. Não
duvidou que ele estaria lá. Procurou por todas as divisões da casa. A luz do
quarto estava acesa e o barulho da água era um convite. Resistiu e não entrou.
Esperou sentada no corredor mesmo à frente da porta. Tinha-se esquecido de
quanto ele demorava a tomar banho. De repente surgiu uma música ensurdecedora,
uma bossa nova dessas modernas. Esboçou um sorriso porque também gostava daquela
música. Agora imaginava a reacção que ele iria ter. Depressa desistiu de pensar
nisso. Ele saiu enrolado a uma toalha e a cantarolar. Abriu muito os olhos, num
esgar. Ela levantou-se sem jeito, como se tivesse cometido um crime. Ambos não
se queriam ter voltado a ver. Ela estava arrependida de ter roubado a chave,
ele só pensava na impossibilidade de esconder os vestígios de Lúcia, sua nova
namorada. Apesar de tudo, não queria magoá-la.
As coisas eram diferentes agora. Nenhum fazia falta
ali. Ela por lhe ter invadido a casa, ele por não amá-la mais.
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
Essa história acabou e me deixou um trago amargo. Os dois viraram costas um do outro. Ela sumiu da vida dele e ele nem contestou. Chocaram os punhos, como num jogo de basquete entre colegas da mesma equipe. Não houve abraço, não houve beijo, houve só essa demonstração muito masculina de cumplicidade. Nesse dia ela ficou bronzeada - o seu único bronze do verão porque depois foi viver para outra estação. À noite foi dançar e nos dias seguintes chorou... por ter acabado. Por os dias passarem muito depressa pelas suas mãos. Por ele não se ter despedido convenientemente. Será que um dia cairá a ficha?
sábado, 21 de julho de 2012
segunda-feira, 4 de junho de 2012
Um dia ela pensou que a sua vida iria mudar 180º, como no dia em que o seu papá morreu prematuramente sem sequer a ter deixado despedir-se convenientemente. Achou que ia ter amigos diferentes, uma casa nova, um outro idioma mais açucarado, a vida que sempre desejou. Seria tudo uma escalada, e depois, no cume, sentiria aquela felicidade desigual e ao mesmo tempo o sentimento de dever cumprido, o não haver mais nada para fazer.
Ela tinha chegado ao fundo do poço quando decidiu mudar de cidade, ela não tinha a atenção que achava que merecia, para ela tudo estava errado, ela vivia na corda bamba.
sexta-feira, 11 de maio de 2012
É sempre uma luta inglória entre o que eu sinto e o que na verdade está a acontecer. Às vezes aceito, outras vezes acho que não mereço. É ridículo sair de casa preparada para te encontrar num virar de esquina, e é ridículo também pensar que aquelas músicas que ouvimos (as minhas preferidas) não foi apenas um acaso.
quarta-feira, 9 de maio de 2012
Tu conheces de cor aquele dia em que o teu coração não está mais apertado e os teus olhos não estão mais cegos. Talvez ainda aches que não terminou ali, no fundo apenas não queres acreditar porque ainda não és capaz de suportar um fim, mas sabes perfeitamente que não há mais nada que tu possas fazer.
Se calhar não foi nada para ti. Mas para mim foi o mundo.
Se calhar não foi nada para ti. Mas para mim foi o mundo.
sábado, 5 de maio de 2012
Ela chorou o dia todo. Mas a noite foi boa. A noite foi boa apesar de eu não gostar muito do namorado da minha melhor amiga. É metido a inteligente. A noite foi boa porque o jantar estava muito bom - já me habituei à tua comida. E porque havia um chihuahua a correr pela sala. A noite foi boa porque o pequeno almoço foi um croissant de chocolate. A noite foi boa só e só porque o dia foi bom.
quinta-feira, 3 de maio de 2012
Acabava a noite sempre com aquela música. Não sabia se para dormir melhor, se para ficar a pensar naquilo, ou se era só porque calhava.
Havia uma altura do dia em que sempre pensava naquela circunstância de não ser capaz de o fazer gostar dela como ela gostava dele. Foi fácil seduzi-lo, pensava sempre. E não sabia se era porque ela realmente era exímia nisso, ou se naquele fim de setembro ele estava fácil porque assim o final do verão o exigia. O primeiro dia em que ele não parou de lhe ligar, o segundo dia em que se encontraram na rua sem combinarem, o terceiro dia em que imperou o silêncio porque estavam os dois muito confusos.
Nessa altura do dia em que ela pensava no porquê e na maneira de fazer com que ele gostasse dela, pensava sempre também na impossibilidade de tal conquista. Não, não podemos pedir a ninguém que nos ame. Isso não se pede.
A música que ela ouvia todas as noites dizia: Come on skinny love just last the year
E era só isto que ela queria: que aquele amor só durasse até ao final do ano.
E era só isto que ela queria: que aquele amor só durasse até ao final do ano.
quarta-feira, 2 de maio de 2012
No final vais me dizer quem te amará. Quem lutará por ti. Quem seria capaz de morrer por aquele amor. No final não sobrará nada e o teu coração vai estar mais desfeito que o meu. Porque perder é aquela sensação de impotência que nunca sentiste ao nível que eu já senti. Mas vais sentir, eu sei que vais. E eu não quero estar por perto.
sábado, 28 de abril de 2012
Se a loucura for isto, então eu estou louca.
Adormeço a enumerar nomes de mulheres começados por S, depois nomes de homens por G, depois vale tudo (homens e mulheres) por V. Impaciento-me com os programas de tv e sonho todos os dias que me pedes em namoro, ainda que coagido.
Se a loucura for isto, coitados dos que nasceram loucos, dos que sempre se conheceram loucos, dos que foram loucos nem que seja um dia a mais do que eu. Eu quero estar onde tu estás, eu penso naquilo que poderias dizer nesta ou noutra situação, eu exalo o teu cheiro por toda a parte, eu procuro-te num sinal fechado, imagino a fisionomia dos nossos filhos - se os tivéssemos.
Ainda me questiono se é o meu perfume que te atrai, se foi o meu esgar, se são as minhas piadas que te arrancam uma gargalhada expressiva, se são as pernas que todos os homens (pelo menos os meus) sempre elogiaram, ou se é o meu jeito de vestir, os meus necklaces, o eyeliner desenhado à pressa, ou nada.
No fundo eu sei que isto é insuficiente, é como se fosse uma sopa para um soldado. Não chega. E sou louca porque acredito que consigo ir para a guerra com apenas uma refeição light.
Aquele dia em que disseste que deveriam haver lojas de memórias, aquele dia em que me mostraste a tua música preferida, o primeiro dia que dormimos abraçados e me perguntaste se o outro lado da cama estava para alugar, o dia em que adormeceste no sofá, e o dia que disseste aos teus amigos que eu era espirituosa, o dia que contámos os sinais da minha barriga, aquele dia que mandaste mensagem 'estás bonita', e o dia que me sentaste ao teu colo. São esses dias que eu choro, e nunca o dia em que disseste que deveríamos ser só amigos, para voltares dez dias depois.
Estou louca e não aguento mais. Hoje não invejo os loucos. Hoje sou eu a louca. Hoje eu não queria ser louca.
terça-feira, 10 de abril de 2012
terça-feira, 6 de março de 2012
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
sábado, 28 de janeiro de 2012
Hoje voltei a ter muitas saudades de uma maneira que nem sei explicar. Porque quando sabemos precisar tal e qual o que nos magoa, é mais fácil. Há soluções mais rápidas.
Não sei se queria voltar a ir contigo ao supermercado, em que ficavas nos corredores à espera que eu fosse buscar as bolachas. Não sei se era da forma como conduzias e da mágoa de nunca teres sido conduzido por mim. Não sei se foi aquela manhã interminável. Não me lembro já da tua voz, só do teu sorriso.
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